Dos 16 aos 16 - Cap 3 - O Show

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Depois da puxada de tapete que Rogério pensava ter tomado, ele não tinha mais cabeça para conversar com sua mãe sobre o show. Mas no dia seguinte logo que chegou da escola, terça-feira, não tinha nenhuma obrigação, teria então a tarde inteira para discutir com sua mãe sobre o show de sábado.

Começa então o discurso:

-Mãe! Posso ir ao show do Ramones sábado?
-Seu irmão vai junto?
-Talvez, preciso falar com ele.
-Se ele não for, nada feito. E com quem você pretende ir a esse show?
-Ah, o Alex, o Eduardo, o Pitoca e o Zelu!
-Nem pensar, pra você ir nesse show só se for com seu irmão e sem esses moleques.Você sabe o que a Inês disse pro pai do Alex? Que ela ouviu a noite o seu amiguinho Pitoca, conversando sobre preço de maconha com o Babaloo... aquele jurado de morte.
-Ah mãe, nem vem, você sabe que a Inês é cheia das ideinha e ela é mó fofoqueira.
-É sim, mas muito do que ela já me falou era verdade. Então é melhor ficar de orelha em pé nessas horas.
-Tá bom mãe, desencana desse show. Esse vai ser o último show do Ramones, eu num queria ver mesmo – ironiza Rogério.
Cai o Sol, chega então Antônio (seu irmão) do trabalho, e Rogério já começa a puxar o saco pra mais tarde, a sós, conversar com Tony sobre o seu tão fabuloso plano.
Acaba a novela das oito, que na verdade começa as nove e meia e Dona Elza vai deitar-se para dormir. Então Rogério puxa o assunto solene:
-Tony, você pode me fazer um favor?
-Depende, se não tiver dinheiro no meio posso.
-Não tem não. É o seguinte, a mãe não me liberou para ir ao show do Ramones com meus amigos, só vou poder ir se for com você, só com você.
-Ih? Você não quer que eu vá ao show dos Punkeros Locos né?
-Não, eu quero que você me leve e me busque no show, mas dizendo para a mãe que vai ao show comigo, e simplesmente me deixe lá!
-Tá! Plano perfeito, você me surpreende às vezes, mas você vai por quinze conto de gasolina pra mim! Certo?
-Tá bom. Ah, uma observação, leva meus amigos também? Só que você vai ter que pegá-los um pouco mais pra frente. Porque a mãe não quer que eu vá com eles.
-Beleza só eles ficarem na avenida que eu pego eles.

No outro dia, Rogério encontra seus amigos na escola e combinam de ir comprar o ingresso. No caminho para a casa de show Rogério explica todo o esquema para os demais. Ele esperava ansioso pelo fim de semana, afinal, não era qualquer bandinha por aí, era os Ramones.
Chega então o tão esperado dia, durante a semana Rogério nem tocou no assunto de novo, para que sua mãe esquecesse e ficasse mais vulnerável a recepção da mentira.

No caminho do show, bagunça pura dentro do carro depois de pegar os demais no local marcado. Passaram pela revista, sem problema, nunca tiveram problemas com drogas e brigas até então. Pois é, esse “até então” foi o que pegou. Lá dentro no intervalo entre o show de abertura tocado pela banda Cpm 22 e o show do Ramones, Pitoca pergunta para Zelu:

-Aê cara, cadê nosso esquema?
Zelu põe a mão na cueca, onde ninguém nunca é revistado, e tira um pacotinho de maconha e um pacote de seda, então ele olha com um sorriso maroto para Pitoca e diz:
-Tá aqui!
-Nossa! Da hora, você trouxe! Deixa-me ver qual é!?!?- Entusiasma-se Pitoca.
-Meu, o que isso?- Questiona Rogério não querendo acreditar.
-Maconha!!! Já ouviu falar?- Responde sutilmente Zelu.

Rogério fica apreensivo, com medo de que alguém veja, mas ele só pensou nisso até ver que Alex pediu para experimentar. Isso foi a sua maior decepção em seus 16 anos de vida, pensava ele, que Alex sabia o que era melhor para ele. Enquanto Rogério refletia, ele ouvia:

-Ai Eduardo! Vai querer?- Perguntou Pitoca já jogando colírio nos olhos.
-Não, valeu, hoje eu tô a pampa.

Dentro de poucos minutos o show teve seu início e Rogério pode esquecer tudo o que tinha visto e curtir o show numa boa. Cantou todas as músicas sem errar nenhuma letra, vibrou a cada chamado de Joey Ramone. E fez valer a fuga e a briga com a sua mãe.

Na saída, quase duas horas da manhã, apenas um detalhe havia sido esquecido, combinar a hora da saída com seu irmão. Então ficaram lá, os cinco, três “passando mal” e dois sãos sem saber o que fazer. Tentaram ligar para o celular de Tony, mas... “Essa ligação está sendo encaminhada para a caixa postal 011...”. Resolveram ir andando até um ponto de ônibus, mas ônibus a essa hora seria meio difícil. Resultado, os cincos patetas chegam em casa depois das seis da manhã. Para os demais, normal, era só dizer que o show só terminara há pouco tempo por algum motivo, mas para Rogério, como explicar sendo que seu irmão dormia tranqüilo em sua cama?

-Rogério, seu moleque, onde você estava?- Esbraveja D. Elza.
-Fui no show com meus amigos!
-Você não tem jeito né moleque? Minha vontade era te bater viu! E seu irmão, ele vai ouvir a dele também.

Ela respira um pouco e continua:

-Você não me ouve, e se acontece alguma coisa com você? Como ficava, ein?
-Mãe, você só me colocou no mundo, não precisa ficar fazendo de tudo pra eu ficar nele. Eu sei o que é melhor pra mim, não sou mais criança não, deixa eu viver a minha vida porra!

Rogério virou-se, entrou no quarto e pôs-se a dormir, afinal estava cansadíssimo. Não dormiu muito bem, pensando no castigo que tomaria, e na maconha que Alex fumara.

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