terça-feira, 11 de agosto de 2009

Dos 16 aos 16 - Cap 20 – Dia de Festa (Parte 3/3)

Leia antes a sinopse e os capítulos anteiores.


Rogério voltou para casa pensando no acontecido. Como poderia haver tanto preconceito, tanta violência? Ele não queria pensar nisso agora, ele queria apenas curtir seu aniversário com sua namorada, amigos e parentes.

Ao chegar em casa de volta, levou todos à cozinha para cortar o bolo. Tudo seguiu como manda o figurino. “Parabéns” cantado por todos, com os amigos enrolando, a namorada o beijando e seu pai tirando fotos de tudo. Depois do “Parabéns” o sempre veio o pedido em coro de...
...“Discurso, Discurso...”

Rogério esperava muito por esse momento para agradecer a todos e a para lembrar algumas coisas que haviam acontecido durante o ano.

-Primeiramente eu queria agradecer a todos que vieram a minha casa prestigiar meu décimo sétimo aniversário. Bom, esse ano foi muito bom pra mim, foi ao mesmo tempo o melhor e o pior, quem me conhece sabe todos os “porquês” disso. “A melhor maneira de se aprender é errando”, não sei se concordo muito com isso, mas eu aprendi muito esse ano com os meus erros e muito ainda com os erros dos outros. Mas as pessoas com quem mais aprendi não estão aqui conosco. Duas delas, acabei de ficar sabendo que foram assassinadas no bar quarta-feira, eram dois senhores que quando eu estava na pior, me deram conselhos, e me fizeram ter forças para lutar: Romero e Damiel estejam com Deus! O outro eu não precisaria nem citar o nome, mas Alex viveu e conviveu comigo desde os 5 anos de idade. Com ele eu aprendi o que é um grande amigo, é aquele que te protege nas horas de perigo, e te conhece suficientemente bem, para te convencer a se afastar sem perder sua amizade. Por outro lado, eu descobri que ainda não estou sozinho, nem vou ficar. Porque Jéferson foi realmente um amigão na hora que eu precisei dele. Mas sem dúvida a melhor coisa que me aconteceu esse ano foi encontrar a minha mais nova namorada, Priscila. Ela sem me conhecer muito bem, nem conhecer meus amigos, fez questão de me ajudar e ajudar meus amigos sempre que pôde. Agradeço também a todos os meus outros amigos, e a meu irmão que me ajudou a fugir da minha mãe algumas vezes durante esse ano. Por tudo isso que vivi esse ano, posso dizer com convicção que eu viveria meus 16 novamente, pois realmente foi muito bom, muito produtivo e com muito aprendizado. E eu escrevi algumas palavras, que quem sabe, se o pessoal do Porca Loka gostar, vire música também. Ai vai – Rogério tira um papel do bolso e começa:

“Mundo rodando, cicatriz cicatrizando, uma vida inteira atrás dos meus ideais
Muita coisa vai mudando
Assim como não posso esquecer meus sonhos jamais
Idéias perdidas não me faça lembrar, quero continuar assim pra sempre, não quero mudar
Quero pessoas perto de mim, e um sonho para correr atrás

Decepções, falta de sorte e um lar, não chamo isso de azar
Um lar pra se ancorar

Agradeço a todos meus amigos: Porca Loka, Jéferson, Priscila
Desistir nunca e jamais, agradeço definitivamente aos meus pais
A meus pais, a meus pais”

-E pra quem vai o primeiro pedaço de bolo? – grita Eduardo.
-Pô, vocês tão com fome ein? – fez um segundo de silêncio e retomou – A pessoa pra quem seria o primeiro pedaço de bolo hoje, não pode o receber, eu sei que ele está assistindo de algum lugar então... Essa é pra você Alex!!!

Quando ele disse isso, seu cachorrinho começou a pular na sua perna, ele havia dado o nome de Alex para o cachorro como uma homenagem. Rogério riu-se e pôs no chão o pratinho com o pedaço de bolo e falou bem baixinho:

-Essa é pra você Alex, pra você!

O cachorrinho devorou aquele primeiro pedaço de bolo, enquanto Priscila dava um apertado abraço em Rogério.

Continuou a festa, e a vida de Rogério que ainda teria muitas novas aventuras a desbravar, como: a procura de um primeiro emprego, a conquista desse primeiro emprego, a entrada na faculdade, e tudo que faz parte de uma pessoa comum da classe média paulistana. Que ele tenha forças para chegar, seja lá aonde ele queira ir daqui pra frente...


FIM...

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Dos 16 aos 16 - Cap 20 – Dia de Festa (Parte 2/3)

Leia antes a sinopse e os capítulos anteiores.


Até agora somente boas notícias, literalmente presentes para Rogério não é? Daí para frente nada de muito diferente aconteceria. Chegariam: Eduardo, Pitoca, Zelu, Marcela, Jéferson, Babaloo, Mariana, Joaninha Pedroca, Jorge, Roberta e até a Bruna foi, fora alguns parentes de Rogério.

Todos presentes e Rogério tentando fazer sala a todos quando sua mãe o chama para a cozinha:

-Rogério vá chamar todo mundo. Vamos cantar Parabéns e cortar o bolo, querido!

Rogério volta a sala e puxa ar para chamar a todos em um só grito, mas pára e pensa em chamar duas pessoas que estavam faltando. Ele pega as chaves de casa e sai em direção ao bar à procura dos Senhores Romero e Damiel. Eles passavam o dia todo naquele bar.

Ao chegar ao bar não os avistou e resolveu perguntar ao dono do bar.

-Por favor, sabe dois senhores que passavam o dia todo aqui no seu bar jogando cartas, ou dominó e comendo petiscos? Dois senhores bem idosos já.
-Romero e o Damiel?
-Isso, eles mesmos. Você sabe onde posso encontrá-los?
-Sei sim. Mas acho que você não vai conseguir falar com eles não.
-Ué, fale onde eles estão, eu preciso muito encontrar eles. É muito importante.
-Eles estão no cemitério!

Rogério inocentemente pergunta:

-Fazendo o que no cemitério?

O dono do bar riu-se, tomou um gole de água e respondeu:

-Estão dormindo
-Mas como isso foi acontecer? – perguntou Rogério extasiado.
-Bom, é uma longa história. Mas em resumo: eles estavam sempre juntos, o dia todo, há anos viviam juntos, e o pessoal dizia muito que eles eram homossexuais. Todos faziam brincadeiras e eles nunca ligaram, talvez porque realmente fossem, ou talvez porque a experiência de vida lhes davam tranqüilidade para aceitar brincadeiras. Porém quarta feira passada...

...Estavam Romero e Damiel jogando Buraco. E o Seu Boneca estava bebendo umas e outras, e ele, você sabem sempre andava armado. Seu Boneca sempre ficava tirando sarro dos dois, e dessa vez não foi diferente, só que desta vez ele estava mais bêbado que o normal.

Seu Boneca foi até a mesa dos senhores e disse:

-Que que as duas bichinhas tão fazendo?

Tranqüilamente Damiel respondeu:

-Buraco, conhece?
-Conheço sim. Vem cá, vocês num tem nada de mais interessante pra fazer? Vocês não são namorados? Então, deviam fazer coisas mais legais.

Ambos nem se abalaram, e Seu Boneca continuou:

-Quem é o passivo? Eu aposto que é você – falou apontando para Romero.

Romero apenas olhou para ele e voltou-se para Damiel dizendo:

-Bati! Me dê o morto, por favor.

Boneca viu aquela olhada como uma sátira, ironia ou coisa do tipo e se enervou já tirando o revolver.

-Ae sua bichinha, tá tirando? Ninguém tira, Manuel Azevedo dos Santos, o Boneca.
Vai ter que fazer um trabalhinho pra mim agora se num quiser morrer! – falou Boneca abrindo o zíper das calças.

Romero continuou o jogo como se nada estivesse acontecendo, pegou o morto agradeceu a Damiel:

-Muito obrigado!
-Obrigado o caramba – enervou-se mais ainda seu Boneca – Você num tem que agradecer, você tem que colocar a boca sua bicha velha!

Romero continuou ignorando até que Seu Boneca colocou o próprio pênis sobre a mesa em que eles jogavam. Romero sem pensar duas vezes deu um murro prensando o pênis do Seu Boneca contra a mesa. Seu Romero havia visto tanto Seu Boneca apontar a arma para as pessoas e nunca havia visto ele atirar, e imaginou que não seria dessa vez.

-Aaaaaahhhhhhhhhh......! Sua bicha, você vai me pagar por isso.

Seu Boneca levantou o revólver, e deu três tiros em Romero. Dois pegaram na cabeça. Imediatamente Damiel levantou-se e foi abraçar Romero já caído no chão todo ensangüentado. Damiel lamentava sobre o cadáver:

-Não Romero, você não pode me abandonar, como eu vou viver sem você agora, como? – falou tudo olhando nos olhos do cadáver e depois o abraçou com toda a força.

Seu Boneca ainda sentindo as dores, se revoltou com a cena e disse a Damiel:

-Ah, sua bicha, eu sempre soube que vocês eram bichas, morre desgraçado, vai fazer companhia pro seu namorado!

Depois disso ele descarregou todas as cinco balas que restavam no seu 38 em cima de Damiel. Ele achava que tinha feito um bem para a sociedade, e sentou-se ao balcão com uma feição de dor e a mão massageando o pênis e pediu mais uma dose. Minutos depois a polícia chegou e o levou.

-Meu Deus do céu. Nosso bairro já viveu dias mais tranqüilos.
-Com certeza – concordou o dono do bar
-Bom, muito obrigado, vou rezar por eles, e também por Seu Boneca que desperdiçou sua vida por uma besteira.
-Realmente, agora os dois estão mortos e ninguém sabe se realmente eles eram homossexuais.
-É verdade, e se eles fossem, não era problema de ninguém.
-Realmente!
-Tchau! – despediu-se Rogério apertando a mão do dono do bar
-Tchau!

Rogério voltou para casa pensando no acontecido. Como poderia haver tanto preconceito, tanta violência? Ele não queria pensar nisso agora, ele queria apenas curtir seu aniversário com sua namorada, amigos e parentes.

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