domingo, 9 de março de 2008

Demissão honesta!

Não existem regras no meio corporativo, mas existem formas justas e honestas de realizar as coisas.

Porém, nossa experiência mostra que a sinceridade, assim como na vida pessoal, é sempre o melhor caminho.

"Demissão honesta" é quando as duas partes, empregador, e empregado sabem antecipadamente do fato, e tem plena consciência do porque está acontecendo.

Eu vou contar minha última experiência, em que pedi demissão, porém, vou pedir o Rogério iniciar uma história, da última vez em que ele teve que demitir um subordinado.

Para iniciar qualquer história, é preciso salientar, que em tudo nessa vida é necessário franqueza e objetividade. Dito isso, a minha gestão, sempre embasada na tranquilidade, confiança e responsabilidade de cada um busca trazer um ambiente mais tranquilo para todos.

Neste cenário, todos estão abertos a darem idéias, ajudarem, pedirem ajuda, dar e receber feedback.

Meu último estagiário recebeu feedbacks, praticamente diários:

Segunda...
- Faz isso pra mim até amanhã... por favor!
- Ok!
Terça...
- Ta pronto?
- Pô, esqueci
- Quando eu peço com um prazo é por que preciso que ele precisa ser cumprido! Não é a primeira vez que você me dá uma dessa!
Quarta...
- Desculpe Rogério! Tive médico agora de manhã.
- Ok! Tente me avisar antes da próxima vez. E o que eu te pedi, está pronto?
- Ah, você ainda precisa? Pensei que...
- Da próxima vez me pergunte, por favor.
Quinta... Reunião de feedback!
- Acho que você precisa se comprometer um pouco mais... Tentar se organizar melhor, vida pessoal e profissional. Tem algum problema, algo que possamos gerenciar?
- Desculpe Rogério. Concordo que não estive 100%, mas vou melhorar.
- Ok!

Semana seguinte, e nada muda. Na próxima segunda-feira.
- Anderson, vamos conversar na salinha por favor...
-...Anderson, o que eu faço com você?
- Como assim Rogério?
- Você não entrega nada no prazo e como eu quero. Chega atrasado sem aviso prévio... e a única situação que te deixei tocar sozinho, deu a maior confusão. O que acontece?
- Desculpa Rogério...
- Se você fosse eu, o que você faria?
- Olha Rogério, eu sei que não venho bem... mas...
- O que você faria?
- ...
- Amanhã, passe no DP, por favor.
- Não Rogério, estou com um monte de problemas em casa...
- Você poderia ter me falado isso antes...

A resposta que estava na língua dele era "eu me demitiria". Mas ele tinha tanto medo, que nem no momento mais tenso, conseguiu admitir e ser sincero. Não adianta correr atrás do prejuízo. Quando é uma demissão comum, sem motivos de cortes de custo, o demitido sabe que isso está prestes a acontecer, e só depende dele contornar... sendo sincero consigo, e com quem mais seja necessário.

Este é um dos sentidos da coisa. Quando o funcionário é desligado, ele precisa saber o porquê antecipadamente, e caso hajam motivos, é preciso que isto seja feito no momento certo.

No meu caso, quando me desliguei, já programava isso havia praticamente 1 ano. Almejava uma viagem ao exterior, conhecer novas culturas, e fazer um curso. Na época eu era apenas um analista, jovem e cheio de esperança.

Quatro meses antes da minha viagem, quando tudo já estava acertado, chamei meu gerente para uma conversa (vou colocar o pseudonome de João nele para este texto).

(O Jeferson realmente não é muito criativo pra nomes, enfim...)

- João... desde ano passado venho programando uma viagem, a realização de um sonho, e uma oportunidade de crescimento pessoal e profissional, que não acontece duas vezes na vida. Viajarei para a Europa, onde pretendo ficar um ano e meio fazendo curso de inglês e um de especialização em gestão em marketing.

João se ajeitou na cadeira... e eu continuei.
- A viagem está programada para daqui 4 meses, então, daqui 3 meses pretendo me desligar da empresa. Terei 1 mês para descansar e preparar os últimos detalhes. Faço questão de te avisar antes, para que possamos nos programar.

Não sei reproduzir as palavras dele, porém, o apoio foi total. Fez questão de manter as portas abertas para quando eu retornar, e com 3 meses de antecedência pode planejar a chegada de um novo analista.

A partir daquele momento, era difícil se manter 100% centrado nas tarefas da empresa, ainda mais com tantas coisas acontecendo, e tantas saudades florescendo. Mas, todos os esforços foram feitos para que se pudesse contar comigo como antes, ou até mais do que antes.

Na data da minha despedida... agradecimentos e desculpas de ambas as partes, mostrando a gratidão pela oportunidade de conviver em um ambiente no qual era visível a franqueza de subordinado e a compreensão e o apoio de gestores. Realmente, para mim, foi o estado da arte do que entendo por “demissão honesta”.

Os dois exemplos não se aplicam a todas as situações do meio corporativo, entretanto são exemplos capazes de justificar a honestidade e a franqueza em grande parte das situações de demissão.

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